A VERDADE QUE ANTES DOÍA
[Sofia dizendo...] A verdade que ninguém gosta é... Nenhum casal se faz 100 por cento. Pode-se chegar a 99, mas nunca 100. Nenhum relacionamento é inteiramente homogêneo, tem lá suas partes que não se dão. Cada um é cada um. Nunca vão se misturar completamente, nunca vão se fazer felizes inteiramente. Mesmo estando juntos, cada um terá seu problema, cada um desejará alguma coisa individual do que o seu parceiro quer.
- Você é tão nova, mas parece que já viveu muitas coisas para saber disso tudo.
- Sim Dra Laura. Acho que mesmo jovem assim, passei por provações do coração que nenhum ser gostaria
de passar. Eu cansei de falar essas coisas para o Du.
- E ele não escutou, estou certa?
- Não! Mas ele também é muito mais forte do que eu. É certo quando dizem que quando acontece conosco, é dificil enxergar.
- Vou chamá-lo para continuarmos a conversa.
Entro na sala da Dra Laura e vejo Sofia com os olhos cheios de lágrimas, mas ao mesmo tempo sorrindo para mim.
Dou-lhe um abraço e Laura pede para que eu sente ao lado dela.
- Então Eduardo, você sabe muitas coisas da sua amiga, ela também sabe muito de você. Fiquei impressionado como
vocês se completam numa verdadeira amizade.
- Sim. Nós somos ótimos nisso.
Nós três rimos, parecia uma gargalhada só.
Depois que entrei no ambiente, Laura pediu para que Sofia continuasse a falar. Mas agora que ela falasse exclusivamente de mim, se possível.
Eu conheci o Eduardo no colégio. Estudávamos juntos. Todos falavam que ele era gay, mas eu nunca tive a prova. Quando descobri, nós começamos a ser mais amigos. Eu confesso que tinha muito preconceito em ter amigos desse tipo, gays, mas ele era tão puro, tão verdadeiro que nem havia como não se apaixonar e querer um amigo assim. Foi aí que ficamos mais e mais amigos. Descobri que ele estava ficando com um rapaz de São Paulo e me contou tudo. Comecei a ajuda-lo e ele a mim. Nossa!! Como viviamos coisas parecidas... Era até engraçado, muito mesmo: duas pessoas de sexos diferentes vivendo coisas muito parecidas. Eu até poderia escrever um livro contanto minha história, porém eu sendo ele, poucas coisas ficariam contrárias ou não existiriam. Ele sofreu, chorou, quis até se matar... Eu lembro. Olhos vermelhos, inchados, boca rachada, pele muito pálida de não comer, horas na frente do computador esperando que o dito cujo entrasse... Enfim, um sofrimento do coração. Um sofrimento que ele não fazia muita questão de esconder. De tapar. Foram dias de angustia. Parecia que eu sentia junto com ele. Ah! E teve outro detalhe. O que mais deixava-o triste, era o fato de que ninguém da família via o sofrimento. Ninguém via a angustia e nem a vontade de ficar na cama e não sair.
- Sério Eduardo?
- Sim. A vontade das coisas era quase nada. Mas foi bom tudo ter terminado, como foi bom ter acontecido. Estou feliz, sinto-me assim.
Olhei para Sofia e ela sorriu, um sorriso sincero, meigo, afirmando tudo o que ela havia dito e tudo o que eu completei.
Dra Laura havia ficado emocionada com tal história e queria muito ouvir mais, porém já estava na hora de deixarmos o consultório.
- Enfim, uma história emocionante. Quero agradecer sua vinda menina Sofia e que possamos nos encontrar mais por aí.
- Eu que agradeço. Se tratando do meu amigo Du, faço tudo.
- Eduardo, nos vemos na semana que vem para você fazer sua última visita, certo? Eu ligo para sua casa para marcarmos.
- Ok Dra. Irei aguardar. Tchau!
- Tchau, queridos.