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PARA A “FILHA” PRIMEIRA
Ilha dos Prisioneiros, 07 de Fevereiro de 2016.
Às 2h55min.
Descobri que sou multi-fotogênico. O que seria isso? Acabei de inventar o nome e o significado. Mudei tanto em um curto espaço de tempo. Descobri que tenho várias faces em pouquíssimos anos, que me fiz homem muito depressa e às vezes me faço menino em questão de segundos. Eu sei que você, minha filha, pode não estar entendendo muita coisa, afinal sou seu pai, eu é que tenho que te entender, e também não me viu quando tinha menos idade, mas as fotografias estão aí para isso. O fato é que tenho medo de continuar mudando tão rapidamente assim em todos os sentidos. As pessoas não estão preparadas para mudanças drásticas e rápidas demais. Normalmente, um garoto demora a mudar de habito, já eu, ah!, eu demorei tão pouco para ser independente. Se isso prejudicou? Talvez. Como já disse, não há um preparo para mudanças, afinal são poucas as pessoas que nascem assim, creio.
Às vezes tenho a impressão que me transformei ou nasci um extraterrestre. É a única explicação plausível que tenho para tantas mudanças. Ver demais, ouvir demais, ensinar demais, trocar experiências demais... É como se tudo fosse uma abdução rápida de comportamento, de fases, de amores, de vida. Tenho medo de chegar aos trinta anos com cara de cinquenta. Não vivo de beleza, mas - incrivelmente espantoso o que direi agora - o mundo vive, e mais incrível é saber que caí nesse mundo. Queria os anéis de Saturno ou a bola de fogo que nos queima, o astro-rei, o Sol (EU SEMPRE COM MANIA DE GRANDEZA – risos).
Na verdade as pessoas acham que não tenho medo, que não passo por provações suficientes, que não tenho duvidas. A máscara forte que criei para disfarçar meus anseios até hoje dá certo, não sei se para muitos, mas tenho tido real aprovação quando se trata de fingir sentimentos. Não ser falso, mas fingir coisas que é melhor eu mesmo não demonstrar (medo de sofrer mais).
Estou escrevendo para você, porque acho que cometi uma burrada. Mandei carta para uma pessoa que eu deveria ter escondido até o lugar que me encontro, onde moro, o que sinto e o que faço. Eu deveria ter sumido da vida dele desde quando me deixou, desde quando me fez sofrer. Não resisti. Nunca consigo resistir. O que eu faço? Corro perigo?
Meu maior veneno e meu maior medo... Sentir o que sempre senti, só que tão forte quanto da primeira vez que o beijei, que o abracei. Desesperadamente.