segunda-feira, 25 de abril de 2011

2. CARTAS DE UM ETERNO CORAÇÃO PRISIONEIRO



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PARA A “FILHA” PRIMEIRA



Ilha dos Prisioneiros, 07 de Fevereiro de 2016.
Às 2h55min.

Descobri que sou multi-fotogênico. O que seria isso? Acabei de inventar o nome e o significado. Mudei tanto em um curto espaço de tempo. Descobri que tenho várias faces em pouquíssimos anos, que me fiz homem muito depressa e às vezes me faço menino em questão de segundos. Eu sei que você, minha filha, pode não estar entendendo muita coisa, afinal sou seu pai, eu é que tenho que te entender, e também não me viu quando tinha menos idade, mas as fotografias estão aí para isso. O fato é que tenho medo de continuar mudando tão rapidamente assim em todos os sentidos. As pessoas não estão preparadas para mudanças drásticas e rápidas demais. Normalmente, um garoto demora a mudar de habito, já eu, ah!, eu demorei tão pouco para ser independente. Se isso prejudicou? Talvez. Como já disse, não há um preparo para mudanças, afinal são poucas as pessoas que nascem assim, creio.
Às vezes tenho a impressão que me transformei ou nasci um extraterrestre. É a única explicação plausível que tenho para tantas mudanças. Ver demais, ouvir demais, ensinar demais, trocar experiências demais... É como se tudo fosse uma abdução rápida de comportamento, de fases, de amores, de vida. Tenho medo de chegar aos trinta anos com cara de cinquenta. Não vivo de beleza, mas - incrivelmente espantoso o que direi agora - o mundo vive, e mais incrível é saber que caí nesse mundo. Queria os anéis de Saturno ou a bola de fogo que nos queima, o astro-rei, o Sol (EU SEMPRE COM MANIA DE GRANDEZA – risos).
Na verdade as pessoas acham que não tenho medo, que não passo por provações suficientes, que não tenho duvidas. A máscara forte que criei para disfarçar meus anseios até hoje dá certo, não sei se para muitos, mas tenho tido real aprovação quando se trata de fingir sentimentos. Não ser falso, mas fingir coisas que é melhor eu mesmo não demonstrar (medo de sofrer mais).
Estou escrevendo para você, porque acho que cometi uma burrada. Mandei carta para uma pessoa que eu deveria ter escondido até o lugar que me encontro, onde moro, o que sinto e o que faço. Eu deveria ter sumido da vida dele desde quando me deixou, desde quando me fez sofrer. Não resisti. Nunca consigo resistir. O que eu faço? Corro perigo?
Meu maior veneno e meu maior medo... Sentir o que sempre senti, só que tão forte quanto da primeira vez que o beijei, que o abracei. Desesperadamente.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

1. CARTAS DE UM ETERNO CORAÇÃO PRISIONEIRO


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Do Eterno Prisioneiro ao Homem que O Machucou


Ilha dos Prisioneiros, 06 de Fevereiro de 2016.

Desde que me entendo por gente, sou assim. Um pouco de tudo: opinião forte, feminino, masculino, adoro roupas caras, tenho dúvidas que não são tão duvidosas assim, vida social grande, festas, amigos, colegas...
Depois que sofri do coração, tenho mudado algumas coisas em mim. Talvez por medo de sofrer novamente, ou medo de ficar refém de alguém ou algum sentimento não desejado. Dizem que são poucas as pessoas beneficiadas pelo amor, que não são todas que amam e são amadas. Eu tenho lá minhas dúvidas, porque junto com isso, vêm o que os outros dizem muito: “sempre tem um chinelo para um pé cansado” ou até mesmo aquele que parece que minha avó está proferindo “você encontrará a tampa da sua panela”. É pra rir mesmo!
Sinto falta da minha psicóloga, ela sempre me entendia. Realmente, parecia que estava lá só para isso, minha vida ficava melhor. Eu nem sentia tanto as coisas ou pelo menos meu psicológico já me surpreendia com essa impressão. Tentei ligar pra ela uma vez, mas creio que tenha mudado de telefone. Quem sabe um dia!
Passaram-se anos. Nem na mesma cidade eu vivo. Mudei-me depois daqueles acontecimentos em nossa vida. Hoje estou bem. Não com quem gostaria de estar, mas sofrendo menos. O tempo não cura, mas ameniza a dor. Faz com que não tenhamos tantos sofrimentos e nem tantas desilusões. Aprendemos.              
Fiz vestibular nesse período, passei numa federal e cá estou. Faço o curso que gosto, construí amigos que amo, não tenho o namorado que desejo, mas a vida tá sendo legal comigo. A dor ainda aperta o peito quando penso em nós (quando penso estar com você – em sonhos). O que me desespera mais é o fato de ninguém poder fazer nada, e por alguns momentos entro em mais desespero porque a esta altura nem eu mesmo posso fazer alguma coisa. Engano. Apenas seguir a vida, é o que faço. Sem você.
Estou escrevendo apenas para você saber um pouco sobre mim. Estou preso, exilado. O único acesso que tenho para fora do meu coração são ‘estes pergaminhos’ que só você lerá. Por incrível que pareça você foi uma das pessoas escolhidas para receber as cartas de um prisioneiro exilado por amar tanto uma pessoa.
Já faz anos, não é?! Queria te encontrar, mas é melhor não. Evito ao máximo ir a sua cidade, já notou? Nem deve ter notado. Está ocupado demais com outras pessoas, pensando em outras coisas e possibilidade, tô certo? Não tem mais tempo para o passado que você mesmo diz ser presente.
Enfim, não quero prolongar mais o assunto, o que era até agora para você realmente saber, eu já disse. Se quiser me escrever de volta use o endereço que está no envelope. Para assegurar que você não perderá este endereço, ele também se encontra escrito logo abaixo da frase que você muito falava.
Um grande beijo do seu eterno e apaixonado (ex) namorado, Du.

EU TE AMO!

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Endereço:
Avenida do Coração, nº2006.
Bairro: Eternamente Apaixonado
Cidade: Ilha dos Prisioneiros – CEP: 20062-008