terça-feira, 16 de junho de 2009
EM BREVE!
Olá meus queridos blogueiros e leitores.
Estarei viajando com mudança para outro estado - Rio Grande do Norte. Portanto, ficarei uns dias sem escrever aqui no blog.
Outros capítulos da série "Divã" estarão prontos o mais rápido possível e serão colocados aqui.
Obrigado pelos comentários e visitas.
Em breve, voltarei.
Se quiser contato, por favor, mande e-mail ou para contato imediato (35) 8876-3089.
Beijos e abraços.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
"Divã" - Capítulo 3
- Olá Edu! Tudo certo?
- Sim Doutora. Eu estou tranqüilo, mais calmo – sorri e dando-lhe dois beijos no rosto como saudação.
- Então, pronto para a próxima sessão?
- Sim. Hoje quero falar da minha adolescência. Acho que é a hora e será bom colocar algumas coisas para fora, igual da outra vez.
Ela sorriu e me ofereceu o divã, aquele sofá espaçoso, mas que quando eu ali deitava, sentia-me excessivamente confortável e protegido. Não sei exatamente o porque, porém apercebia-me acolhido naquele local. Comecei a contar sobre as coisas que já havia escutado e das que aprendi durante a minha adolescência. Logo em seguida, entrei no detalhe que muitos não gostam de falar ou escondem. O fato da minha opção sexual.
- Conte-me tudo. – disse olhando em meus olhos e aparentando estar muito mais interessada nesse assunto do que nos anteriores.
Pois é. Meus pais descobriram que sou gay. Descobriram de um jeito chato, mas pelo menos descobriram. Muitos já desconfiavam – inclusive meus pais, até mesmo que eu estivesse namorando. Eram apenas desconfianças. Quando eles tiveram certeza, ficaram sem falar comigo, foi uma época difícil para mim. Dentro da minha própria casa existia o preconceito e eu só fui perceber realmente isso quando cheguei a esclarecer tudo. Esclarecimento que me custou meses de choro, de tristeza, porém também de alivio. Sentia-me aliviado por não ter que esconder mais as coisas, a minha realidade. Com o tempo eles foram aceitando. Até fui ver meu namorado. E sabe quem foi comigo? Meu pai. Exatamente! O homem que durante algum tempo ficou calado, queria ver de perto quem era a pessoa que me fazia feliz. Dessa vez, sem preconceitos. Comecei a amar ainda mais meu pai. Ele, o durão da casa que nunca aceitaria isso, passou a aceitar. Passou a respeitar. Sem duvidas, o meu ídolo, meu herói.
- Quem era seu namorado?
- Essa é uma outra historia. Feliz, entretanto, melancólica em algumas partes.
- Depois você me conta. Pelo jeito te marcou e você ainda se recorda disso com muito carinho.
- Sim, com certeza. Aquele garoto foi meu amor. Aliás, é.
- Você fala com um brilho no olhar. É apaixonante. Mas me diga, onde esse seu ex mora?
- São Paulo. Não tinha lugar mais perfeito, não é?! – de repente muitas risadas.
- Nossa!!
- Pois é, meu pai me levou lá. Era a primeira vez que iria vê-lo depois de um ano de namoro, ou mais.
- E vocês namoravam por...
- Sim. Pelo MSN, pela webcam. Estranho, mas era.
Rimos juntos e apesar de meus olhos estarem cheios de lagrimas, eu estava alegre. Ela também sorria como se a historia tivesse acontecido com ela. Ficamos rindo durante um longo tempo, quando o relógio despertou avisando que o horário havia acabado, Dra Laura lamentou e claro, eu também. Eu estava tão à vontade. Tão à vontade como quando contei a minha melhor amiga que estava namorando esse garoto. Tão à vontade quando o vi pela primeira vez. Confortável.
- Tchau, doutora. Até mais. – acenei.
- Ligarei para sua casa para marcar a próxima sessão. Estou tendo uma idéia, depois lhe falo. Até logo! – também acenou entrando novamente em sua sala e fechando a porta.
sábado, 6 de junho de 2009
"Divã" - Capítulo 2
[Eduardo] Eu sempre me sentia bem com todos os estilos de amizade que eu tinha. Não parava muito para pensar em alguma atitude, ou algo que havia deixado de fazer ou falar.
Minha infância foi tranqüila, nada extraordinário.
Além das coisas que contei na primeira sessão, lembro-me bem de que meu pai, como até hoje, vivia viajando. Ele morou em várias cidades de estados diferentes e dependendo da onde estava, vinha quando dava. Cheguei várias vezes a ficar sem ver meu pai durante meses. Todos achavam, ou pelo menos a maioria das pessoas, que eu não dava por falta de meu pai. Eu até me recordo também das vezes quando ele chegava sexta-feira e passava o final de semana conosco para que no domingo pudesse viajar novamente, e eu ficava ali na porta, esperando ele passar só para que eu pudesse dar-lhe um beijo e me despedir. Logo depois, eu começava a chorar. Ficava em prantos quando meu pai ia embora. Minha mãe, coitada, abraçava-me e confortava-me. Não adiantava muito, no entanto, ela o fazia. Estava sempre ali.
Naquele momento, um choro descompassado tomava conta de mim. Eu não sabia se chorava pelas coisas tristes que lembrei, ou se ria pelas coisas boas.
Só sei que me vieram mistos de sentimentos e eu ficava ali, olhando para a Dra. Laura e não sabendo mais como me controlar.
- Calma. – estendeu-me a mão dando-me um lenço.
- Obrigado. – respondi estendendo o braço e pegando-o.
- Você culpa seu pai por algum comportamento seu na época ou de agora?
- Na verdade, não. Só queria que ele tivesse ficado mais tempo comigo.
- É, são grandes emoções. Você está bem?
- Sim, estou. Mais uma vez, obrigado pelo lenço.
- Sua sessão está acabando, mas antes queria que você ficasse com esse papel. Quando estiveres triste, é só lê-lo. Irá te ajudar.
No papel, havia uma citação escrita em caneta vermelha, com as letras bordadas parecendo de convite de casamento, dizendo assim: “Pouco importa o que aconteceu no passado – por mais cedo que tenha acontecido –, levante a cabeça e siga em frente. Um erro nunca persiste a vida inteira, a não ser que você sempre deseje isso”.
Ao ler, dei um sorriso largo e agradeci.
Senti um conforto por ter conseguido contar fatos que eu guardara por tanto tempo.
Apertei a mão da doutora Laura e saí pela porta, cantando, alegre, sorridente.
Dei um tchau para a secretária e desci pelo elevador.
Eu já não achava mais aquela sala estranha. Além de sentir-me bem na rua quando criança, agora também me sentia vivo e em meu próprio espaço ali dentro.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
"Divã" - Capítulo 1
O INÍCIO
Estou eu aqui.
Dentro de uma sala, com uma pessoa que nunca vi antes para contar meus problemas, anseios, desejos e trajetória de vida.
Chega ser engraçado!
Nunca imaginei que fosse me defrontar com essa situação que há tempos já não é mais tão peculiar como antigamente. Mesmo sabendo que não é tão incomum, eu sempre desejei não precisar estar numa sala toda decorada, com uma pessoa estranha e conversando sobre mim, sobre minha vida.
- Então... você é o Eduardo?
- Sim, sou eu. Por quê? Algo de errado?
- Não! – Respondeu de supetão. – Você já fez algum tipo de terapia ou de estudo com algum psicólogo?
- Não, é a primeira vez que venho em um médico de louco, se é isso que me pergunta.
Ela sorri e se desloca até a mesa de cafezinho para pegar um copo de água.
-Quer dizer que você acha que ser psicólogo é tratar de loucos?
- Sim. – olho de um lado para o outro com o desejo reprimido de se levantar e se ausentar daquela sala isolada de barulhos.
- Pois é. Então iremos conversar primeiramente disso.
Depois da longa explicação, ela perguntou-me se eu gostaria de beber um copo de água e se estava à vontade.
Como aquilo tudo me incomodava, eu permanecia calado para não falar alguma bobagem e acabar estragando a minha primeira sessão.
Eu estava deitado em uma poltrona – quase uma cama – vermelha, com algumas almofadas grandes, até que bem confortáveis, o mais conhecido como Divã.
Até que dessa parte eu não tinha muito do que reclamar. Tinha que reconhecer que apesar de estar bastante receoso de contar minha vida inteira, aquela “cama” era acolhedora e confortável. Porém, não era o suficiente.
- Eu sei que o senhorio não está muito à vontade nesta sala, eu também ainda não consegui me acostumar com ela. – disse com uma voz tranqüila com um toque de ironia. E também você não é o primeiro a estranhar e a ficar calado de uma hora para a outra. Cá para nós, a maioria dos pacientes que vem aqui pela primeira vez, fica com essa mesma cara e às vezes demoram sessões para falar alguma coisa que realmente interessa para o tratamento.
- Sim, eu entendo. Mas...
- Mas...?
- É que eu sou um pouco fechado dependendo da situação. E para ser sincero, essa é uma. Eu não sei exatamente como começar.
- Que tal começar do inicio? Essa é aquela parte que você começa falando como foi sua infância, como seus pais te tratavam, se você era um bom aluno... E se possível, rápido, porque já se passaram trinta minutos da sua primeira sessão e nada de falarmos de você. – completou com um semblante calmo e dando algumas risadas.
- Ok. Pode ser.
Logo comecei a falar de minha vida particular, contando as coisas que eu lembrava: do que eu gostava, o que eu fazia, como era o dia a dia.
Eu lembro que adorava brincar na rua quando era menor. Acordava às nove da manhã para fazer o dever e me aprontar para ir à escola. Para mim sempre foi uma festa esta parte de estar com meus coleguinhas.
Após sair do colégio, minha mãe ia me buscar e eu ia direto para a casa. Trocava de roupa e corria para a rua. Lá era meu lugar. Era o local que eu mais me sentia livre para ser quem sempre fui. Brincava de várias brincadeiras de rua: pique pega, bandeirinha estourada, pique esconde... Enfim, era o local ideal.
Se diversão não fosse uma coisa ou sentimento inanimado, essa seria eu.
Como eu gostava. Sentia-me livre. Sentia-me feliz.
- Eduardo?
Senti algo me cutucando e quando dei por mim era minha psicóloga.
- Oi. O que?
- Sua sessão acabou e... acorda! Você me conta histórias e viaja. – sorriu discretamente.
Dei uma gargalhada.
- A é? Perdoe-me! É que quando me lembro dessas coisas, me dá saudades. Pena que isso não pode voltar. Eu aceitaria me mandar para o passado e ficar por um tempo lá, recordando o tempo em que eu não tinha problemas e que tudo era um paraíso.
- Pois é. Mas isso não se faz possível ainda. Olha, vamos marcar sua próxima sessão para... Hoje é segunda-feira... Marcaremos para quarta, pode ser?
- Sim. Pode.
- Então está marcado. Vejo-te quarta-feira às três da tarde, ta?!
- Estarei aqui. E obrigado, realmente falar um pouco para um desconhecido pode ser a saída para muitas coisas.
Ela sorriu, eu também. E fui caminhando para a porta...
- Tchau! – ela disse.
- Até mais.