quinta-feira, 10 de março de 2011

ESQUADROS

É tão ruim ter que esperar por algo que você não tem certeza se vai realmente acontecer.
Eu passei por isso. Tive tantas emoções essa semana e nas semanas que passaram... Mas minha indignação, meu medo, minha história, meus sentimentos, minha revolta não vem só com o que esperei, mas com algumas coisas que vi.
Nunca imaginei que fosse falar sobre isso, mas...
Saí de casa com a felicidade de estar acompanhado por amigos e de ver coisas interessantes no carnaval. Vi! Mas vi além da felicidade.
Estava no ponto de ônibus para voltar para a casa; minha amiga e eu. Nossa surpresa?
Vimos dois homens deitados nos bancos que ali estão para acomodar a vasta população que espera o lotação. Estavam esperando ônibus? Não! (Nem perguntei a minha amiga como esses homens estavam vestidos e as posições, porque ela não irá lembrar. Conto-lhes o que lembro).
 O primeiro estava deitado com uma aparência de quem não tomava um banho há dias, os braços cruzados juntos ao peitoral, uma camiseta azul (que ironicamente o tingimento do azul era lindo. Apaixonei-me!), um short jeans rasgado (antes pela moda!), chinelos imundos pretos com detalhes cinza e com a sola, aliás, praticamente sem sola... dormindo. Parecia, apesar da situação, calmo, tranquilo nas ruas de Natal (fica no Rio Grande do Norte, que coisa! A cidade do Sol.), perante o maior shopping da cidade, o point. Olhando o primeiro sem me esquecer do segundo, claro.
O segundo... Bem, o segundo trajava uma calça jeans, azul, mais suja. Ele aparentava estar a mais tempo no meio do mundo, ali no shopping pedindo dinheiro, comida, alguma coisa que acalmasse seu sofrimento. Para nosso transtorno e porque não surpresa, tinha perto dele dois pedaços de maçãs já comidas, pela metade – ou menos da metade – mas que significava a esperança para aquele homem. O “bicho” andava para um lado e para o outro da parada de ônibus parecia que estava pensando se deveria pegar ou não aquele resto de fruta que uma pessoa, teoricamente da zona sul, comeu sei lá há quanto tempo. Andava para um lado e para o outro... Andava, andava... Olhei para minha amiga e pude ver o desespero no olhar dela, como ela deve ter percebido meu desespero ao ver meu semblante olhando aquele cara rodeando pedaços de maçãs que custam menos de um real em qualquer supermercado, venda ou birosca. Quando menos esperávamos, o “bicho” cata os restos de maçãs, arrasta-se para o banco e senta. Senta perto de um saco grande, branco, estampado com uma logomarca famosa (ironia ou não, ele nem pode comprar nessa loja e nem ao menos entrar no shopping para ver o que a mesma vende), ali ele colocou os “cacos” de maçã. Para comer depois? Possivelmente.
Não hesitei em dizer a minha colega: “ele irá comer isso mais tarde”. Quase choramos.
Eis que o nosso ônibus se aproxima, o ônibus que poucas pessoas gostam de pegar, apesar de serem obrigadas a isso. Uma viagem.
Depois dessa descrição, que ao relatar me causa emoção (não sei em vocês), eu até me perdi do que iria falar.
Ah! Recordei-me. Iria falar do meu desespero de esperar uma coisa ou alguém que nem sei se irá chegar, todavia depois dessas imagens que ficarão em minha vida, em minha memória, em meu HD, o que estava sentindo antes ficou pequeno, mesmo me causando certa dor.
Doar meus sentimentos facilmente para uma pessoa foi como perder a virgindade novamente. Foi como me enganar outra vez. Foi como não ter sofrido nunca por amor.
Estava te esperando. Estava esperando o que você poderia me dar. Que pena! Acho que me equivoquei: você não tem o que me dar. Não agora! Ou nunca!


 

 

3 comentários:

Vinicius Pereira disse...

Texto de difícil interpretação. Digo isso porque existem sentimentos ocultos e complexos, envolvidos em histórias de terceiros mas que na verdade "fazem parte" do seu cotidiano. Achei intenso! E adorei, tenho que confessar.
Não importa sobre quem ou para quem você está falando nesse texto, mas tirei dele uma lição: me amar e cuidar de mim, sem esperar muito dos outros. Até porque são as expectativas que geram as decepções.
Te amo!

Jéh disse...

Anjinho....Tive uma bela surpresa quando acordei e vi seu email sobre a nova postagem do blog...Ansiosa li o texto por ali mesmo...Como sempre texto incrivelmente bem escrito, carregado de emoções,sentimentos,anseios...Mas o que mais me chamou a atenção foi a descrição dos dois homens, na qual cada detalhe expressa a sua difícil situação de vida.Enquanto eles passam por isso,eu aqui reclamando de coisas pequenas,fúteis..Obrigada por ceder espaço em seu texto para eles...
Em poucas linhas vc disse oq realmente sentia..esse baú de sentimentos que vc foi nas últimas semanas, tudo causado por ele...
ele implica coração viu??rs...
Infelizmente ainda não encontramos ngm digno de cuidar dele...mas fique tranquilo,pois essa pessoa está por aí, vcs apenas ainda não se encontraram....Enquanto isso conte com sua filha aqui...
que estará sempre,sempre disposta à ajudá-lo no que for possível (e no impossível tbm) tentando retribuir um pouco do que vc fez por mim...
Gde Bjo
Te Amo

Camila Lima disse...

Realmente, não lembraria do primeiro (que estava a dormir), lembro-me do que chamarei do "homem da maçã". Depois de uma ótima tarde com duas pessoas maravilhosas, vimos o que não queriamos ver. E quando ele pegou aqueles "cacos" de maçã, eu tive um pequeno desespero, quer dizer, NÓS TIVEMOS. É nessa hora que percebemos o quanto somos impotentes quando se trata de sentimentos.
É uma situação horrível ficarmos esperando por algo que talvez não aconteça, já passei por isso e você sabe muito bem. Tudo vai se ajeitar! Quando menos esperamos, tudo se ajeita. ;)
Amo você!